As Aventuras De Pi, de Yann Martel

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  • Última modificação do post:12 de setembro de 2020
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As Aventuras de Pi impressiona por num instante lhe causar comoção pela sensibilidade e no instante seguinte lhe dar náuseas pela visceridade.

As Aventuras de Pi Resumo

As Aventuras de Pi

Richard Parker ficou comigo. Nunca o esqueci. Será que posso dizer que sinto saudade dele? Pois sinto. Sinto mesmo. Até hoje sonho com ele. Na maior parte das vezes, são pesadelos, mas pesadelos com um toquezinho de amor.

As Aventuras de Pi (Life of Pi) de Yann Martel

Piscine Molitor Patel vive uma vida pacata em Pondicherry. Seus pais são donos de um zoológico na cidade e ele tem apenas um único irmão. Ao iniciar sua vida no ensino médio, agora na melhor escola particular da cidade, o Petit Séminaire, ele resolve por um ponto final nas gozações que sofria por ter um nome tão peculiar.

E assim que precisa se apresentar na primeira aula ele assume o nome de Pi Patel, dando uma retumbante explicação sobre algoritmo π. Sua encenação viraliza e logo temos outros tantos assumindo por apelido letras gregas.

É nesse novo período de sua vida que ele conhece duas novas pessoas que vão mudar sua vida, um padre e um sufi (mulçumano místico). Não demora Pi passa a praticar o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, ao mesmo tempo.

Porém, sua vida vai virar de cabeça para baixo quando seu pai, insatisfeito com a política de seu país (a Índia), resolve partir com a família para uma nova vida no Canadá.

Ele vende os animais para outros zoológicos ao redor do mundo. Compra uma passagem para ele e sua família em um cargueiro japonês de bandeira panamenha, o Tsimtsum, que aliás, também está levando muito dos animais do zoológico para seus novos donos, e parte.

E aí a tragédia acontece.

Em meio a uma tempestade o cargueiro afunda.

Pi graças a ajuda dos marinheiros é jogado em um bote salva vidas e salva-se. No bote, os únicos sobreviventes do naufrágio: um garoto desnorteado; uma zebra-de-grant, uma orangotango de Bornéu, uma hiena-malhada e um tigre-de-bengala com mais de 200kg chamado Richard Parker.

Enriquecendo o Vocabulário

Enriquecendo o vocabulário

A caneta é mais poderosa que a espada

Edward Bulwer-Lytton

No artigo do livro 1984 de George Orwell que escrevi há poucos dias, há um tópico que fala, especialmente, da importância dada ao domínio das palavras e o risco iminente da sua não realização, assim alertado pelo autor de um dos livros mais importantes da história recente da humanidade.

E se a sua intensão é aprender novas palavras de um jeito natural, então separe um caderno, um dicionário e uma caneta, pois a tradução de Maria Helena Rouanet de Life of Pi (As Aventuras de Pi) é simplesmente impecável e riquíssima em novas palavras.

É hora de enriquecer seu vocabulário amigo (a).

Quando comecei a ler a história, logo no primeiro capítulo fui obrigado a recorrer ao uso do dicionário pois me deparei com as primeiras palavras que fugiam do meu conhecimento. E nos capítulos subsequentes até o derradeiro foi uma monção de vocabulário novo.

Vi aí a oportunidade diante de mim. Abri meu coletor de água de chuva e comecei a anotar em um caderno. E as palavras vieram uma atrás da outra.

Certa vez ouvi um cidadão dizer que se quiséssemos aumentar nosso vocabulário deveríamos ler dicionários. Não que isso não funcione, mas você já sentiu vontade de ler um dicionário? E se o fez, voltou a fazer com alguma frequência?

Não né?

A melhor maneira de se enriquecer o vocabulário é, indiscutivelmente, lendo.

Pois o novo vocabulário vem naturalmente e já na sua forma prática. E apesar dos dicionários, no geral, virem com um exemplo do uso das palavras, esses exemplos não nos dizem nada, não há qualquer ligação emocional com elas. E assim, como brumas ao vento, elas saem de seu vocabulário sem nenhum esforço.

Da Comoção à Náuseas

Da comoção à náuseas

É impressionante como este livro em uma hora está lhe causando comoção pela sensibilidade e no momento seguinte está lhe dando náuseas pela visceridade.

Naijar Tahan

Escrevi isso no meu instagram quando estava em determinada porcentagem do livro. Agora que terminei a leitura, ao reler essas palavras, penso como elas foram assertivas em descrever a sensação que é ler As Aventuras de Pi.

Não sou muito fã de filmes de terror, e em consequente, também não leio muito livros de terror, mas esse livro de Yann Martel tem momentos que são tão brutais que deixa no chinelo muito dos mais famosos filmes de terror gore.

Pior que não tem quem diga ou como esperar.

As situações dos naufrágios que geralmente vemos nos filmes é bem diferente da enfrentada por Pi.

O diretor Ang Lee, que adaptou o filme para os cinemas, teve o bom senso de censurar a maior parte dessas cenas. Diria até, que se não fosse por isso, o filme não teria lhe dado o óscar.

Pi, apesar de ter três religiões, ainda é vegetariano, mas se vê obrigado a matar os animais que encontra para se alimentar e alimentar a Richard Parker, o tigre-de-bengala de mais de 200 Kg que lhe acompanha em seu martírio. Seus primeiros “assassinatos” são para nós (na maioria) aceitáveis. Comer peixes faz parte de nossa cultura.

Entretanto, quando Pi captura a primeira tartaruga o cenário muda sem sair do oceano.

A visceridade da cena é tão impactante que me causou náuseas.

Na verdade, houve pelo menos uma meia dúzia de cenas que me causaram essa sensação. Umas antes e outras tantas depois dessa cena em específico.

Mas nem só de gore é feito As Aventuras de Pi.

Tristeza, pena, desespero e alívio completam o cardápio desse incrível livro.

Não É Fantasia, É Ficção Científica

As aventura de pi é ficção científica

Fiz uma descoberta botânica excepcional. Muitos, porém, não vão acreditar no episódio que se segue. Mesmo assim, resolvi contá-lo agora porque faz parte da história e aconteceu comigo.

As Aventuras de Pi

No vídeo presente no artigo que fiz no início do ano “12 Livros Para Ler Em 2020” enumero a minha lista de leitura para o ano corrente e cito a quais categorias eles pertencem.

Com exceção do derradeiro livro, Lendas do Deserto que ainda não sei qual é seu gênero, todos os demais se encaixam ou como fantasia ou como ficção científica.

Por uma concepção prévia, tirada do filme, e por falta de pesquisa, acabei classificando As Aventuras de Pi como fantasia.

Ledo engano.

Na verdade, se não fosse pelo capítulo 92 do livro não poderia classifica-lo nem como um ou outro. Mas devido a esse capítulo, estou-o classificando como ficção científica.

A bem da verdade, isso não altera o fato que este é um livro maravilhoso e você deveria lê-lo o quanto antes. Mas erro é erro.

Será Verdade?

Será?

Yann Martel, autor do livro o qual o filme é baseado, declarou que teve como inspiração o livro “Max e os Felinos”, do escritor brasileiro Moacyr Scliar, que trazia a história de um refugiado judeu que deixava a Alemanha e cruzava o oceano Atlântico em um bote, juntamente com um jaguar.

Adoro Cinema

Eu confesso que não esperava por essa.

Senhor Yann Martel, parabéns, o senhor me enganou. Em nenhum momento da narrativa você me disse que a mesma se tratava de uma história baseada em fatos reais ou coisa do tipo.

Mesmo assim, após finalizar o livro fiquei tão estupefato com toda aquela situação e principalmente com a segunda narrativa apresentada na terceira parte do livro, que acreditei.

O senhor conseguiu me vender uma bela mentira como verdade.

Parabéns.

Fiquei tão incomodado com a incerteza dessa história ter ou não alguma veracidade que tive que recorrer ao senhor Google.

E deparei-me com o texto que você leu na abertura deste tópico.

Não.

Não há um pingo de verdade nas Aventuras de Pi. Pura lorota do início ao fim. E que lorota, daquela das boas, em que a mentira é mais real que a realidade. Mas, tudo ficção. Ficção científica no final das contas.

Afinal, não é disso que trata esse blog? Sobre lorotas com magia ou com algum embasamento ou especulação cientifica?

É sim, é isso mesmo.

Mas confesso que fiquei um tanto desapontado, conquanto satisfeito por ter sido enganado.

É raro conseguirmos adentrar tão afundo em um mundinho fantasioso e real, enquanto o vivemos.

Parabéns.

Algumas Coisas Interessantes Em A Vida De Pi

Coisas interessantes em As Aventura de Pi

A Vida de Pi

Começamos pelo seu título, As Aventuras de Pi. Sinceramente o nome original e português (de Portugal) são bem melhores, Life of Pi e A Vida de Pi, respectivamente.

Não que a tradução tenha ficado ruim. Na verdade, essa é uma das melhores traduções de uma obra literária que já li. Mas… o título no original ou sua tradução direta casa melhor com a história. As Aventuras de Pi passa uma ligeira ideia de aventura espirituosa e cheia de alegrias, o que não é.

Aprenda A Domar O Seu Tigre

No capítulo 71 você aprende como domar um tigre, e por consequência qualquer animal. Apesar de ser uma obra de ficção esse e diversos outros ensinamentos no livro podem realmente vir a serem úteis na vida.

Por isso, se for viajar de navio, certifique-se de ter um tigre-de-bengala com você só por precaução. 🙂

Um Pouco de Biologia

No artigo “Jurassic Park – O Livro Não É Melhor Que O Filme” falo de minha formação em ciências biológicas e de como isso pode ter diferenciado minha visão em relação ao livro.

Bem… o mesmo fato pode ter me feito ficar ainda mais maravilhado com a obra de Yann Martel, já que ele explica em diversas situações os comportamentos dos animais de maneira natural.

Você vai aprender biologia e sem nem perceber.

Ele Sobrevive Desde O Início

Essa foi certamente uma decisão corajosa que poderia ter estragado a história.

Saber que o personagem vai sobreviver desde o primeiro capítulo nos faz enxergar o final da história, mesmo assim o autor foi capaz de me prender a cada linha, ansioso em saber como Pi chegaria ao final que eu já sabia desde o começo.

Uma Chuva De Raios

No capítulo 85 Pi e Richard Parker passam por uma tempestade, é nesse capítulo que há a cena mais espetacular em todo o livro, que aliás ficou fora do filme.

Duvido muito que eles conseguissem fazer tão incrível quanto foi na minha mente. 🙂

Em Defesa Dos Zoológicos

A maioria de nós, ambientalistas, não somos muito chegados a zoológicos. Motivo? Vários, mas não vou entrar em detalhes aqui, se quer ter uma amostra basta pesquisar no Google “problemas com zoológicos”.

Entretanto, nosso amigo Pi, que segundo ele mesmo não quer defender os zoológicos, mas acaba fazendo, explica como é a rotina complexa desses estabelecimentos e de como a vida dos animais que ali aprisionados é muitas vezes melhor que na própria natureza.

Ele usa de bons argumentos, mas não é radical e por isso estou falando disso. É bem provável que muitos dos que leram o livro tornaram-se defensores dos zoos.

Como contraponto deixo a seguinte pergunta: você trocaria sua liberdade de ir e vir, de se relacionar com quem quiser, falar com quem quiser, por uma prisão com barras de ouro?

As Aventuras de Pi, Já Quero Ler Novamente

Livro As Aventuras de Pi

Eu na verdade não esperava muito dessa obra, mas que bela surpresa. A versão que li a digital no meu Kindle Paperwhite, agora preciso comprar a versão física para ter em minha estante.

Infelizmente já vi que não foi produzida nenhuma versão em capa dura. Talvez acabe comprando uma versão em inglês no futuro, ou mesmo a versão pt-br do livro que já está na praça.

Aliás, se você ainda não leu essa incrível obra, compre o seu no link abaixo, garanto que você não vai se arrepender.

Hoje me despeço do jeito que comecei esse artigo, com um pequeno trecho do livro, que garanto, repercutirá muito mais em você após a leitura de As Aventuras de Pi de Yann Martel.

Richard Parker ficou comigo. Nunca o esqueci. Será que posso dizer que sinto saudade dele? Pois sinto. Sinto mesmo. Até hoje sonho com ele. Na maior parte das vezes, são pesadelos, mas pesadelos com um toquezinho de amor.

Martel, Yann – As Aventuras de Pi (Life of Pi)

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